quinta-feira, 14 de abril de 2011

Resenha sobreTelejornalismo, narrativa e identidade: a construção dos desejos do Brasil no Jornal Nacional

 
Na introdução, Iluska Coutinho e Christina Ferraz Musse discutem como o Jornal Nacional constrói sua narrativa “a imagem do país ou dos muitos países possíveis e imagináveis” (p. 27) na série de reportagens “Desejos do Brasil”, exibida durante o período de campanha eleitoral à presidência em 2006.

Essa identidade construída nos conteúdos do telejornal procura estar em consonância com seus telespectadores. Tendo o público como princípio orientador dos telejornais brasileiros, Iluska Coutinho busca refletir sobre a conversão do público em personagem nas narrativas do JN. Para isso, ela concentra-se em examinar os modos e motivos pelos quais fontes populares são inseridas nas reportagens.


Nas sociedades contemporâneas, os meios de comunicação ocupam um pa­pel central. É por meio deles que a maioria dos cidadãos tem acesso às infor­mações sobre o que se passa no mundo e na cidade. Dentre os veículos de comunicação, a televisão em especial tem uma função importante na formação do imaginário urbano, construindo laços de pertencimento entre os habitan­tes e os espaços onde vivem. É certo que os telespectadores não são passivos diante do que veem na TV, mas é igualmente razoável afirmar que alguns deles dependem excessivamente da TV como única fonte informativa.

Deste modo, apesar de os cidadãos viverem na cidade, andarem em suas ruas, perceberem-na concretamente todos os dias, muitas das representações que dela fazem não decorrem de suas experiências vivenciadas. O que implica dizer que a representação da cidade pela mídia ,  produzida a partir dos enqua­dramentos dados a ela cotidianamente, tem profundos impactos nas narrati­vas que os habitantes de uma localidade fazem sobre si mesmos.

Ou seja, os meios ajudam a construir ou reforçar identidades. Toda vez que os registros jornalísticos resgatam a história e a memória da cidade, fazem-no por meio de escolhas sobre o que será lembrado e o que será esquecido.

A televisão recria o imaginário urbano a partir do momento em que ajuda a ordenar o espaço público, a qualificar alguns lugares e a desqualificar outros, a dar visibilidade a alguns assuntos e a deixar outros no esquecimento. Logo, a cidade que é mostrada nos telejornais não é mais do que um recorte dentre muitas cidades possíveis.

Sendo os discursos que circulam pelos meios de comunicação variáveis fun­damentais para a formação da opinião pública (sobretudo daqueles setores que só têm acesso à informação mediada), o noticiário veiculado por eles in­fluencia em alguma medida a percepção do mundo de parcelas significativas da sociedade. A imagem urbana será ratificada ou contestada a partir da cidade veiculada pela mídia.
Consequentemente, o discurso adotado pelas matérias constrói relações de identidade, cria laços de pertencimento, faz com que as pessoas se reconhe­çam (ou não) naquela cidade.

Não se trata aqui de avaliar o quanto essa cidade existe efetivamente ou não. A questão é observar que, apesar de legítima, esta narrativa supõe uma uni­dade que a cidade não tem, nem nunca teve.

Por Samuel Dantas

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